Uma questão de gosto.
Artur Mósca | Formador na área de Design
Uma questão de gosto.
Hoje gostaria de falar de gosto. Não o gosto por algo, de gostar do que se faz ou do gostinho daquele prato favorito. Mas “Gosto”, aquele que nos diferencia no que fazemos e que faz com que passemos de banais a bestiais.
Quando iniciamos o nosso percurso profissional ou de crescimento pessoal nas áreas artísticas, há uma tendência para melhorar constantemente aspetos técnicos, dominar as ferramentas, ser o melhor possível com estas ferramentas, durante esse tempo praticamente queremos simplesmente fazer, e fazer o melhor possível. Isto faz de nós excelentes técnicos nas nossas áreas. Sabemos responder e corresponder. Mas como olhas para esse trabalho?
Não sou exceção, passei os últimos anos a aprofundar os conhecimentos técnicos e teóricos de modo a dominar as minhas ferramentas de trabalho, a profundidade de conhecimento e lucidez com que os executo. De há uns tempos tenho vindo a pensar sobre o que falta. Olho para os trabalhos e vejo que estão bem executados, mas falta-lhes algo, parecem estéreis. São uma reprodução técnica e acabo por não gostar deles, apesar do cliente ou o público gostar, pessoalmente, sinto um vazio e uma insatisfação brutal que me dá vontade de apagar tudo o que fiz neste período.
Ensinar ensina-nos e observamos pequenos detalhes que podemos levar para casa porque não são de todo, pequenos. Tenho visto alunos que se esforçam por aplicar os seus conhecimentos da forma mais complexa possível para mostrar que o sabem fazer e outros que o fazem de forma tão simples, mas brilhante. O facto é, que esses que o fazem de forma simples (não confundir com preguiça) o fazem com o objetivo de criar algo com “Gosto”, que muitas vezes não precisa da complexidade que julgamos ser necessária para que algo seja apreciado. E isto faz com que o seu trabalho se destaque, pois tem estética e uma forte componente pessoal, “Gosto”. E é isto que no final os distingue, o que no final se identifica como “teu”.
Por vezes temos de voltar a pensar no que nos colocou neste caminho, a resposta normalmente será o “Gosto” pessoal, a tua estética, a tua linguagem que queres comunicar.
Todos os grandes artistas, realizadores, fotógrafos, pintores, escultores, designers. Aqueles que podemos dizer que foram e são Grandes, se diferenciaram por estéticas pessoais, porque trouxeram algo que mais ninguém tinha e que só eles podiam dar, pois ofereciam a sua perspetiva, o seu “Gosto” próprio.
Concluindo, trabalha para dominar as tuas ferramentas, sai da área de conforto se necessário, mas nunca a abandones porque essa área de conforto e trabalha-a até aos seus limites, essa estética é que te vai tornar Grande e dar o “sumo” a tudo o que fazes.
Desenho: Artur Mósca
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